11 fevereiro, 2008

De malas aviadas

O Zero de Conduta terminou os seus dias na plataforma do Blogger. A partir de hoje o nosso endereço passa a ser http://zerodeconduta.blogs.sapo.pt Até já.

ler os blogues

A PJ prepara-se para a mais monumental barraca da sua história. Prepara-se para envergonhar de forma clamorosa todo o país, ao ter de reconhecer que fez cair sobre dois inocentes a suspeita mundial de que teriam matado a sua filha. Nas guerras internas que caracterizam a nossa justiça, será uma machadada sem precedentes na Polícia Judiciária. É injusto que por os suspeitos e a vítima serem estrangeiros isto tenha maiores repercussões? É. Mas é um facto indiscutível. O Daniel Oliveira diz tudo o que há a dizer sobre "barraca internacional" que tem sido a investigação do caso Maddie. Vale a pena ler.

SIM

Faz hoje um ano que os portugueses votaram “Sim” à despenalização do aborto. Fizeram-no depois de serem bombardeados com a propaganda do costume: vinha aí o aborto livre e a irresponsabilidade congénita das pessoas ia tratar do resto. Como é normal, nada disso aconteceu. A lei começou a ser cumprida, sem sobressaltos e nenhuma agitação. Mais, os números provam que o número de abortos tem sido bem menor do que se poderia prever, com a vantagem de ser prestado em condições de saúde pública e sem a humilhação inquisitorial que perseguia as mulheres. De resto, o gráfico que aqui se mostra é esclarecedor sobre o tipo de companhia que deixámos para trás há um ano. A modernidade passou por aqui. Agora, venha o resto...

10 fevereiro, 2008

Pensamento Crítico Contemporâneo

Seminário de Introdução
O seminário pretende mapear algumas das principais problemáticas que desafiam um pensamento crítico contemporâneo, dos estudos sobre nacionalismo à crítica da sociedade do espectáculo. Para este efeito, ao longo das diferentes sessões, serão discutidas propostas de intelectuais cuja reflexão tem motivado importantes debates políticos (ver programa em baixo). O seminário destina-se ao público em geral. Mediante inscrição serão disponibilizados materiais comuns de leitura, dispensando-se qualquer tipo de formação académica prévia.

FÁBRICA BRAÇO DE PRATA - MARÇO/MAIO 2008 - SÁBADOS das 17H-20H
Inscrições: cursopcc@gmail.com Tel.: 213 536 054
Atenção: Lugares limitados!
Preço do Curso: 25€, 15€ para Estudantes (Acesso a Todas as Sessões e a Materiais de Leitura)
Preço por Sessão Avulso: 4 €

Organização: Le Monde diplomatique – Edição Portuguesa NÚMENA
A Fábrica de Braço de Prata. Projecto das livrarias Eterno Retorno e Ler Devagar, a Fábrica Braço de Prata é uma livraria com 12 salas e 3 ateliers que ocupa uma área de 700m2. Construído em 1908 para ser uma fábrica de material de guerra, o grande edifício do Poço do Bispo transformou-se num centro de cultura com cinema, ateliers, galerias de arte, salas de concerto e livrarias. Tem também um bar, uma esplanada ampla e inúmeros lugares de estacionamento. Fica situado em frente aos correios de Poço de Bispo. Mais informação em: http://www.bracodeprata.org/.

8 MARÇO >> A Arte de Governo em Michel Foucault - Jorge Ramos do Ó (FPCE-UL)
Benedict Anderson e os Estudos sobre Nacionalismos - João Leal (FCSH-UNL)
15 MARÇO >> E.P.Thompson e a Cultura Plebeia - Fátima Sá (ISCTE)
Debord e o Estranho Jogo da Internacional Situacionista - Ricardo Noronha (FCSH-UNL)
29 MARÇO >> Gilles Deleuze e a Micropolítica - Nuno Nabais (FL-UL)
Alain Badiou: Pode a Política Ser Pensada? - Bruno Dias (NÚMENA)
5 ABRIL >> Do Feminismo a Judith Butler - Miguel Vale de Almeida (ISCTE)
De Edward Said aos Estudos Pós-Coloniais - Manuela Ribeiro Sanches (FL-UL)
19 ABRIL >> Rancière e a Partilha do Sensível - Manuel Deniz Silva (FCSH-UNL)
Fredric Jameson e o Marxismo Dialéctico - Miguel Cardoso (Birkbeck College – Universidade de Londres)
10 MAIO >> James Scott e a Força dos Fracos - José Manuel Sobral (ICS-UL)
Bourdieu, Classes e Gosto - Nuno Domingos (SOAS – Universidade de Londres)
17 MAIO >> Giorgio Agamben e o Homo Sacer - António Guerreiro (FL-UL jornalista do Expresso)
Toni Negri e John Holloway: Comunismos pós-1989 - José Neves (ICS-UL)
24 MAIO >> Georg Simmel e os Estudos sobre Tecnologia - José Luís Garcia (ICS-UL)
Jacques Derrida e a Política da Desconstrução - Silvina Rodrigues Lopes (FCSH-UNL)
31 MAIO >> Slavoj Žižek – Bem-vindos ao Deserto do Real - Nuno Ramos de Almeida (comentador do RCP)
Dois Anarquismos, Chomsky e/ou Feyerabend - Rui Tavares (EHESS-Paris cronista do Público)

Sectarismo cansado e sem futuro

Líder da Autoeuropa vetado pelo PCP para o Congresso da CGTP. António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa e militante do Bloco de Esquerda, não passou na triagem para a lista para o Conselho Nacional, a ser votada pelo congresso de 15 e 16. Controlada pelo sector mais ortodoxo do PCP, a direcção daquele sindicato excluiu o nome de Chora, quer como delegado, quer como potencial membro do Conselho Nacional. António Chora fala mesmo de "veto político" e recusou o convite para assistir ao congresso dos próximos dias 15 e 16. A Autoeuropa representa 20% dos filiados no sindicatos dos metalúrgicos, um valor que sobe para mais de metade se lhe somarmos as empresas do parque industrial de Palmela. Nenhum dos seus dirigentes conseguiu lugar nos cinco nomes do sindicato que fazem parte da lista candidata ao Conselho Nacional da CGTP.

O problema não é só António Chora ser do Bloco de Esquerda. À frente da Comissão de Trabalhadores da maior fábrica em território nacional, negociou um acordo em que aceitou trocar dias de trabalho e metas de produtividade pela garantia dos postos de trabalho e de investimento futuro na empresa. O acordo foi um sucesso e tornou-se mesmo uma referência internacional. Ninguém foi despedido e, depois de dois anos de congelamento salarial, os aumentos têm sido bem superiores à inflação. A empresa continua em Portugal e tem assegurada a produção para um par de anos, investindo mais 500 milhões de euros.

O sindicato dos metalúrgicos, e os sectores mais ortodoxos do PCP, nunca lhe perdoaram o acordo. Consideraram-no uma cedência. Ao contrário da Autoeuropa, onde sempre fizeram campanha contra a comissão de trabalhadores e contra António Chora, o seu modelo foi o que foi seguido na Opel da Azambuja. Quando a administração da GM propôs um acordo semelhante ao que vigorava em Palmela, lançaram a empresa numa série de greves inconsequentes até que, em referendo, os trabalhadores recusarem a estratégia da Comissão de Trabalhadores e aceitarem o acordo proposto pela empresa. Só que, por essa altura, alguém com maior sentido negocial já tinha aceite um acordo mais favorável à GM em Saragoça. O acordo podia não ter resultado e evitado a deslocalização da Opel, é certo, mas a casmurrice de sindicalistas que tentam combater o capitalismo globalizado do século XXI com as estratégias do século XIX, traçou inapelavelmente o destino 1200 trabalhadores.

É este o modelo sindical que não suporta exemplos como o de António Chora. Cansado e velho, acumula derrotas e acrescenta desesperança à classe trabalhadora que diz representar, enquanto continua sentado há mais de 20 anos nos gabinetes dos sindicatos. António Chora ficou de fora. Em seu lugar entrou Manuel Bravo, antigo delegado sindical da Merloni, uma empresa deslocalizada vai para mais de 3 anos. De então para cá é funcionário do sindicato dos metalúrgicos.

Em nome de quem?

A edição desta semana do Programa Parlamento, transmitido ontem pela RTP2, juntou deputados do PS, PSD, PP e Bloco para discutirem o combate à corrupção, um tema rapidamente aproveitado por Nuno Melo (PP) e Helena Terra (PS) para efectuarem um comício contra o bastonário da Ordem dos Advogados. É justo que estes dois partidos não se revejam nas declarações de Marinho Pinto. Questão diferente, e totalmente inaceitável do ponto de vista da representação política, é que enviem deputados a um programa para falarem enquanto advogados. Com várias matizes, o argumento central foi sempre o mesmo: "Eu, como advogado, não me revejo no actual bastonário da Ordem". Só que ninguém os convidou como advogados, mas como deputados. Como o próprio nome indica, quem participa no programa Parlamento representa um grupo parlamentar, não é suposto estar lá em nome dos seus interesses particulares. O que se passou ontem contribui para o descrédito do Parlamento e torna pertinentes todas as dúvidas sobre a representatividade dos deputados. Respondem perante os eleitores ou perante os escritórios onde exercem?

Depois do episódio sucedido com Jorge Neto, advogado que participou activamente na OPA sobre a PT, e que aproveitou uma audição parlamentar ao presidente da CMVM para levantar várias questões sobre a OPA entretanto falhada, várias vozes se levantaram exigindo um regime de incompatibilidades mais rígido. Totalmente de acordo, mas antes de aí chegar talvez fosse mellhor começar pelo mais simples: resolver a confusão que vai na cabeça de alguns deputados, que parecem não entender onde acaba a sua profissão e começa o seu cargo político. É nessa sobreposição de interesses, muitas vezes conflituantes, que começa toda a promiscuidade entre os negócios e a política.

Um trabalho de Hércules

De acordo com o Expresso, Luís Filipe Menezes vai esperar pelo início de 2009 para começar a apresentar propostas alternativas às políticas do Governo. Curioso. O mesmo homem que pretende desmantelar o Estado em seis meses, precisa de quase um ano e meio para apresentar uma ideia nova. Está certo. Olhando para o partido laranja, percebe-se que é muito mais complicado reformar o PSD do que o Estado.

07 fevereiro, 2008

O voto que faltava a McCain

O candidato republicano ultraconservador Mitt Romney anunciou hoje que iria desistir da candidatura presidencial. Boas notícias para McCain que, com Romney ou Huckabee na vice-presidência, pode ir à procura do eleitorado mais importante para qualquer candidato republicano.

Em casa de ferreiro espeto de pau

Em entrevista ao Jornal de Negócios de ontem, Salvador da Cunha, o novo presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Conselho em Comunicação e Relações Públicas, reconhece que a "má imprensa" é o principal problema do sector. Não querendo ser muito incómodo, que para isso já basta a imprensa, mas que género de serviços de assessoria comunicacional é que vendem as agências representadas numa associação que se queixa de ter má relação com a imprensa?

06 fevereiro, 2008

Então, bom Natal (principalmente porque é o último que passam por cá)

Este vídeo, como se pode ler na página do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, retrata a "Festa de Natal organizada pelo SEF na Unidade Habitacional de Santo António", o "espaço destinado a acolher cidadãos estrangeiros à espera de repatriamento". Bonitas palavras para classificar um centro de detenção para os imigrantes que vão ser expulsos do país. Com uma cara que varia entre o espanto e o enfado, própria de quem sabe que está à beira de ser recambiado para o país de onde tentou "dar o salto", os imigrantes (que se encontram detidos) são tratados pelo representante do Governo como "utentes". Assim mesmo. Utentes, como se estivessem num centro de saúde ou transporte público. Mas o melhor é mesmo a mensagem do padre presente, o qual insiste em lembrar a história de que Maria, mãe de Jesus, só chegou a Nazaré porque se foi recensear. Um motivo de orgulho para aqueles imigrantes sem papéis, está bom de ver. Mas a analogia não deixa de ser curiosa, permitindo-nos perceber que, fosse hoje, e não havia cristianismo. Sem documentos e passaporte, um qualquer burocrata teria enviado a peculiar progenitora de Jesus à precedência.

Bem-vindos ao século XIX

“Um trabalhador que esteja cansado física ou psicologicamente – porque está mais velho, porque tem problemas familiares, porque trabalhar naquela empresa não era exactamente o que pretendia ou porque se desinteressou do trabalho – deve poder ser despedido por justa causa”. Gregório Rocha, membro da direcção da CIP.

Foi você que falou em populismo?

Ontem foi dia de José Miguel Júdice na Sic. Começou a chamar "populista" e "gordo" a Marinho Pinto, comparando-o com Mussolini e Chavéz. Dada a salganhada ideológica, deduz-se que o termo de comparação é mesmo a proeminência da barriga. O tempo das ideologias já lá vai, pelo menos para Júdice, e nada como apontar as características físicas do adversário para marcar pontos na argumentação. Mas o melhor veio mais tarde, na edição da noite, onde tentou explicar como é que um restaurante de luxo, com uma localização ímpar no alto do parque mais central da capital, paga 500 euros de renda à câmara. Não explicou, é certo, mas nem por isso gostou de ver Teresa Caeiro lembrar que o ex-bastonário dos advogados é um dos sócios de tão suculento negócio. Uma"insinuação lamentável", disse, ainda por cima vinda de alguém que tem uma "relação íntima com um dos sócios". Nada como uma insinuação sobre a vida privada para combater uma crítica pública. Júdice anda preocupado com a figura que os outros andam a fazer. Devia olhar melhor para o seu exemplo e deixar as lições de moral, carregadas de insunuações, de lado. É que nem chega a ser populista. É só marialva.

05 fevereiro, 2008

Obviamente, censurava-o

Se nunca leu uma crítica literária que começa por pesar o livro em análise, não perca mais tempo. O Expresso publicou no seu site a "crítica" (as aspas são minhas) ao mais recente livro de Miguel Sousa Tavares (via corta-fitas). O caso mereceu alguma atenção porque a direcção do jornal recusou a publicação deste mesmo texto no jornal, e a autora, Dóris Graça Dias, argumentava ter sido censurada pelo facto de Miguel Sousa Tavares também escrever no Expresso. O seu caso parece simpático, e propício às teorias da conspiração que tanto sucesso costumam fazer, mas não resiste a uma leitura do seu texto. É confrangedor. Nem a um aluno do 1.º ano da extinta Universidade Independente se perdoava um texto tão desconexo. Em nenhum momento se critica o livro de Miguel Sousa Tavares. Não li o "Rio das Flores", nem pretendo ler, mas não é preciso conhecer o livro para perceber que tudo o que motiva Dóris Graça Dias é a sua embirração com o sucesso editorial de Miguel Sousa Tavares. Não deixa de ser curioso, aliás, que a informação mais detalhada que nos transmite sobre a obra é a sua tiragem e peso.

Tudo o que MST disser sobre a sua própria escrita, o seu romance histórico é gratuito. Que o escreveu a pedido de muitas famílias, que passou três anos muito duros, quase dois a documentar-se e um fechado em casa a escrever, sem viajar: nada disto interessa a um leitor; nada disto interessa à literatura, diz Dóris Graça Dias. Não interessa à literatura, como não devia importar à critica literária. Que as declarações do autor, posteriores à publicação do livro, sirvam de instrumento epistemológico para a análise de uma obra literária diz mais sobre a qualidade da “critíca” do que sobre o “Rio das Flores”. O seu texto foi censurado? Sei lá. Censurável era publicá-lo.

Super terça-feira

Paul Gasol estreia-se hoje com a camisola dos Lakers. Com a chegada da vedeta espanhola à Califórnia, está oficialmente reaberta a mais famosa rivalidade da NBA. Os Lakers contra os Celtics, agora em gloriosa alta definição e pay per view. Passaram vinte anos desde que Larry Bird, Magic Johnson e Kareem Abdul- Jabbar tornaram a liga americana de basquetebol num jogo global. De lá para cá, europeus e argentinos não pararam de evoluir, de tal forma que é a chegada de um dos melhores jogadores europeus que se arrisca a tornar os Lakers na mais formidável equipa da sua geração. Bolas, parece que ainda não é desta vez que os Suns ganham. E o Steve Nash já vai nos 34 anos...

04 fevereiro, 2008

Perseguição política é isto

O jornalista do New York Times que revelou o programa ilegal de escutas, autorizado por George Bush, foi intimado para revelar as fontes a que recorreu para escrever um capítulo do seu livro sobre o programa nuclear iraniano. Se não o fizer, será preso. Não é a primeira vez que um jornalista do Times é detido por se recusar a revelar as fontes de notícias que embaraçaram a administração Bush. Embora o caso não seja o mesmo, não há como negar que este processo é mais uma tentativa de perseguição política sobre a imprensa que ainda investiga o que se passa nos pouco recomendáveis bastidores da dupla Bush-Cheney.

A geração 500 euros foi ao Colombo

Num país com 1 milhão de trabalhadores precários e onde a geração mais qualificada de sempre luta para obter trabalhos de 500 euros, só se estranha que a precariedade laboral continue tão distante da agenda política e mediática. O aparecimento de colectivos como os FERVE ou os Precários Inflexíveis promete mudar um pouco esse panorama. A RTP tem acompanhado as inicitivas destes dois grupos, como pode ser visto aqui e aqui (no Centro Comercial Colombo).

03 fevereiro, 2008

Workaolic

O deputado do CDS-PP Telmo Correia assinou cerca de três centenas de despachos como ministro do Turismo na madrugada do dia em que o novo executivo, liderado por José Sócrates, foi empossado no Palácio da Ajuda. Apesar de estar em gestão corrente, o ex-ministro do Governo de Santana Lopes fez uma verdadeira maratona que quase não lhe deu tempo para se inteirar do que estava a assinar à pressa, após ter passado mais de uma dezena de dias sem ir ao Ministério do Turismo. Entre os documentos assinados, estava a segunda versão do parecer da Inspecção-Geral de Jogos que implicava a não devolução ao Estado do edifício do Casino de Lisboa, no Parque Expo, no final da concessão à Estoril Sol, notícia ontem avançada pelo Expresso.Isto é que é apego ao trabalho e brio profissional. Já sabendo que vai ser despedido, continua, até altas horas da noite, a cumprir o seu (desinteressado) dever profissional.

Mais extraordinário ainda é ter que ouvir, na RTP, o administrador da Estoril Sol, Mário Assis Ferreira, a explicar que o Estado teve que entregar o edifício à empresa detentora do Casino porque esta teve que suportar sozinha, e sem comparticipação pública, as despesas de reconversão do Pavilhão do Futuro - no valor de 111 milhões de euros. A resposta só não chega a ser caricata porque, pelos vistos, alguém no PP a levou a sério e fez a vontade à Estoril Sol. Estranho país este em que o Estado entrega os hospitais públicos à iniciativa privada e, ao mesmo tempo, se sente na obrigação de comparticipar as despesas de um casino.

Workaolic II

Parece que o Departamento Central de Investigação e de Acção Penal (DCIAP) vai investigar os meandros da não devolução ao Estado do edifício onde funciona o Casino de Lisboa. Estranho é que o assunto tenha que ser investigado criminalmente. Num país normal, e com um governo normal, a primeira coisa que o partido socialista teria feito era revogar os despachos de Telmo Correia que não fossem simples actos de gestão – o que não é, manifestamente, o caso. Mas esta fúria legislativa, que se parece apossar dos governantes nos últimos instantes antes de correrem as cortinas do ministério, é uma história que vem de longe. Basta lembrar que o ruinoso contrato para a administração do Hospital Amadora-Sintra, cujas contas não são validadas vai para seis anos e que já custou ao Estado mais de 70 milhões de euros, foi assinado pelo ministro Arlindo Carvalho, do PSD, 9 dias depois da primeira vitória de António Guterres. Na altura, como agora, ninguém no Governo se lembrou de ver se o acordo defendia os interesses públicos e se acautelava mecanismos transparentes de controlo das despesas invocadas pela administração hospitalar. O resultado é o que se sabe. Sempre seria engraçado saber o que é que a actual ministra da Saúde pensa dessa omissão de Maria de Belém.

O legado de Menezes

Ressuscitar e credibilizar a imagem pública de Santana Lopes.

Os barões são para as ocasiões

Depois de ter andado semanas a ameaçar com uma comissão de inquérito à actuação do Banco de Portugal no caso BCP, Menezes recuou. Que não, que "somos um partido responsável, com sentido de Estado". Como a mudança de agulha teve lugar depois de uma reunião com os outrora detestados barões do partido - quase todos a trabalhar na banca e com ligações ao BCP e Banco de Portugal -, fica a impressão que o súbito apreço de Menezes pelo "sentido de Estado" lhe terá sido assoprado ao ouvido por alguém mais sisudo e com pouca vontade de ver a elite laranja no Parlamento a justificar-se perante os deputados. Isto como vai já vai mal, não é preciso piorar. E esperar que não chegue ao banco do Dias Loureiro e amigos.

01 fevereiro, 2008

Ruído

O mesmo Governo que garantia não existir nenhum problema com a política da Saúde, e que tudo se resumia a um problema de comunicação, mudou de ministro. O discurso agora é que não fecham mais urgências sem alternativas. O contrário do que fez Correia de Campos. Mesmo assim, o Governo diz que a política se mantém.Incoerência? Recuo? Nada disso. Não perceberam? Deve ser mais um problema de comunicação.

Um estudo inconveniente

Pareceres técnicos revogados ou alterados por decisão politica, técnicos que se demitem ou são forçados a demitir, e mais mil e uma peripécias até se chegar a um parecer amigável para a RAVE, convenientemente assinado por um engenheiro electrotécnico(!). Esta notícia é o pior prenúncio sobre o que se prepara com o TGV e o aeroporto. É antes das obras começarem que se decide o que importa. O cancro do acordo com a Lusoponte começou quando, contra todos os pareceres evidências, Ferreira do Amaral recusou a ligação Chelas-Barreiro e optou por uma localização que acumulou sucessivos défices de tráfego. Pagos por todos nós, claro. Mas é também um bom exemplo sobre a existência de um espírito de serviço público nos institutos e serviços do Estado. Uma independência pouco conveniente e que explica porque razão os governos se têm crescentemente virado para as encomendas técnicas às empresas de consultoria (só este ano são 380 milhões de euros no OE). Assim sempre se tem a certeza que o estudo técnico apresenta a solução politicamente conveniente, sem o desgaste e embaraço público de ser apanhado a andar a martelar os resultados.

Remax resolve

É bonito de se ver, sim senhor

Não deixa de ser curioso ver como alguns dos liberais que passam todo o ano a defender a meritocracia para atacar qualquer direito social, estão entretidos numa desenfreada competição para ver quem é que faz a mais ardente defesa de um regime que entrega a chefia do Estado à casualidade fortuita do encontro entre um espermatezóide e um ovócito.

Há coisas fantásticas, não há?

Marinho Pinto disse ontem o óbvio na entrevista a Judite de Sousa. O processo Casa Pia foi instrumentalizado politicamente. Foi o que chegou para o inefável advogado da Casa Pia anunciar que pretende apresentar uma queixa na Ordem contra Marinho Pinto. Miguel Matias é também o representante legal das vítimas de abusos sexuais nessa instituição. Só mesmo em Portugal é que dezenas de crianças são violentadas e abusadas num internato e o advogado da instituição, em vez de se estar a defender da acusação de negligência, aparece como defensor das vítimas. Em vez de estar calado, e assumir as culpas da Casa Pia, dedica-se a ameaçar com processos todos quantos criticam os excessos da investigação e a evidente politização da sua orientação. Mas Miguel Matias não é um caso isolado. O que dizer, então, do pedo-psiquiatra que acompanhava as crianças na Casa Pia e que, só depois de ler nos jornais que existe pedofilia no internato, é que começa a falar na existência de 800 vítimas, sem nunca ninguém lhe perguntar como é que isso escapou ao seu conhecimento enquanto médico? This stinks

Bem vistas as coisas, o problema é mesmo esse

José Sócrates: "Assumo a autoria e responsabilidade dos projectos que assinei".

31 janeiro, 2008

Media madness


Jon Stewart e o seu tema preferido: a “independência” das narrativas jornalísticas na política norte-americana. Um exercício que pode facilmente ser transposto para qualquer acto eleitoral, em qualquer parte do mundo. Por cá, basta recordar a influência que teve nas últimas presidenciais uma certa fotografia de Mário Soares na capa de um semanário.

29 janeiro, 2008

Com a saúde não se brinca

Depois de semanas a garantir que o problema não era a política da saúde, mas a má comunicação da mesma, Sócrates cedeu à oposição e mudou de responsável pela pasta. E logo na semana em que Correia de Campos esteve por três vezes na SIC, e deu uma entrevista ao Expresso, a garantir que continuaria no seu lugar até ao fim da legislatura. Ironicamente, foi remodelado na véspera de se deslocar ao Parlamento para apresentar já famoso plano de requalificação das urgências.

Dificilmente o timing podia ser pior para o Governo. Mudar de ministro no meio de uma barragem da oposição, do próprio partido e de uma contestação popular sem precedentes é coisa para tirar o sono a qualquer governante. Mas não havia outra solução. Há muito que o Governo tinha perdido o controlo político e já não havia política de redução de danos que valesse a Correia de Campos. O ministro da Saúde, num certo sentido, teve azar. Porque o problema das populações não foi (só) levarem-lhe o centro de saúde. É que antes já lhe tinham tirado a escola, a GNR, os CTT e o tribunal. Correia de Campos chegou tarde à centralização dos serviços do Estado nos centros urbanos do litoral. Chegou tarde e pagou caro, talvez porque, como diz a Teresa Ribeiro, "com a saúde não se brinca".

Culpa do ministro ou não, há muito que os dados estavam lançados e os recentes casos - como o do telefonema da operadora do INEM para os bombeiros de Alijó - apenas aceleraram o passo. Sócrates pode dizer o que quiser amanhã na sua deslocação ao Parlamento. Hoje teve uma das suas maiores derrotas. Cedeu, em toda a linha, à oposição parlamentar e à ala esquerda do PS, personificada em Manuel Alegre. Que o tenha feito a pouco mais de um ano para as eleições não é um pormenor.

O crime (desorganizado) compensa

A ausência de organização em rede de comunidades de imigrantes ilegais está a impedir o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de desmantelar eventuais estruturas suspeitas no Algarve, disse hoje o director regional do organismo.

De acordo com Van Der Kellen, o "grande erro" das comunidades de Leste foi o de transportar para Portugal as estruturas de «peso», sendo mais fácil a detecção das hierarquias e de arranjar provas para levar a tribunal.

Uma resposta incoveniente


Questionado pelo líder parlamentar do PP, sobre a política e micro-política da CMVM na detecção da crise do BCP, Teixeira dos Santos saiu-se com a última coisa que o PP queria ouvir:"O senhor deputado não espera que, neste momento, e passados estes anos todos, tenha aqui presente na minha memória todas essas informações. Até porque não tenho por hábito fotocopiar, ou digitalizar, os arquivos antes de sair dos lugares. Diogo Feio nem levantou os olhos da mesa.

Uma pergunta inconveniente

Toda a gente fala nas corajosas reformas de Correia de Campos. Sinceramente, sem ser o encerramento dos Serviços de Atendimento Permanente, alguém me consegue dizer de que reformas estamos a falar?

Sim, é isso mesmo que se costuma dizer quando o Governo cede à oposição.

O porta-voz do PS, Vitalino Canas, diz que o governo sai reforçado com a remodelação ministerial.

Alguém se enganou no número de telefone

Há dois António Pinto Ribeiro. Um, é o ex-programador da Culturgest e um dos princiais especialistas em política da cultura. O outro é advogado, especializado na defesa dos direitos humanos. O Governo nomeou António Pinto Ribeiro para ministro da cultura. O advogado.

Os amigos são para as ocasiões

O mesmo Governo que reintroduziu os benefícios fiscais para os PPR, reduziu o remuneração dos certificados de aforro pela segunda vez no espaço de 18 meses. Uma medida que prejudica 700 mil portugueses, essencialmente idosos e com pequenas poupanças, que compraram os certificados confiando na palavra do Governo e se vêm agora, de um dia para o outro, com um produto que perde 10% de rendimento a médio prazo. Será normal que uma parte significativa dos pequenos aforradores emigrem para os fundos da banca, que se vê agora com produtos similares e melhor remuneração do que as novas taxas dos certificados de aforro, mas onde vão deparar com um sem número de produtos financeiros com um risco muito mais elevado. Como estamos a falar de pessoas com um escasso conhecimento dos produtos financeiros existentes, e os funcionários das agências bancárias têm metas a apresentar, será muito provável que alguns dos reformados acabem por investir as suas poupanças num “fundo fantástico na Papua Nova Guiné”. Uma sondagem do Eurostat, hoje citada no Diário Económico, diz que “só 10% dos portugueses estão optimistas com a economia”. Bate certo. Devem ser os accionistas da banca.